Feliz Dia das Crianças

Eu não tenho filhos e já deixei de ser criança há um bom tempo.

Não há tanto que não me lembre ainda como era brincar na rua, jogar videogame com os amigos (faço isso ainda hoje) ou soltar a imaginação. Isso, aliás, é uma das coisas que me assusta. Não a parte de soltar a imaginação, mas justamente o contrário. Mas calma, vamos por partes.

 

crianca e cachorro correndoAssistindo a um dos canais de desenho outro dia, notei que os comerciais (que são muitos e longos) são recheados com propagandas de brinquedos, desde os mais simples até os mais complicados. Não que eu seja contra, quase me formei em publicidade e propaganda além de jornalismo (mas meu apreço pela verdade não combina com a capacidade de provocar desejo, enfim), mas a questão é que como se faz para explicar para uma criança que ela não pode ter aquele brinquedo da televisão? É difícil, não? Eu fui educado com algumas restrições, não pude ter tudo o que eu queria (patins in line e carrinho de controle remoto ainda assombram meus pesadelos infantis), mas aprendi a me virar com o que tinha (que nunca foi pouco também) e, o mais importante, aprendi a praticar a imaginação sem ferramentas para isso.

Lembro que, quando criança, brincávamos de muitas coisas. Algumas precisavam de brinquedos (como Comandos em Ação, ou andar de bicicleta) e outras eram total e completamente livres. A minha preferida era brincar de monstro (fantasma ou lobisomem também contava). Lembro que juntávamos os meninos da rua (éramos cinco, basicamente) e fazíamos uma história onde todos éramos irmãos vivendo numa casa grande e velha, até que um de nós era mordido por um lobo e passava a se transformar em lobisomem, tendo como objetivo transformar os outros. Parece roteiro de filme B ruim, eu sei, mas era divertido! Porque nunca sabíamos quem já havia sido transformado, quem ainda era completamente humano e a tensão de não ser o próximo ou de ter de transformar o outro era ótima. E não precisávamos de brinquedos. Usávamos um terreno baldio como “sede”, às vezes as calçadas.

Também brincávamos de Polícia e Ladrão, sem armas, apenas com a mira invisível e quem morria contava até cinqüenta e voltava a brincar. Joguei muito futebol que, afinal de contas, só precisa de uma bola, muitas vezes daquelas que parecem uma bexiga e custa bem pouco e quando vai na direção da lança de alguma grade fica todo mundo torcendo para que não acerte em cheio para não furar.

E não que na minha época (que foi outro dia mesmo) as coisas fossem diferentes, tínhamos as propagandas escancaradas, até de cigarros (eu quase fiquei doente uma vez para tomar Guaraná Antarctica), e também não é que as crianças hoje sejam diferentes, elas ainda brincam só com a imaginação. Mas algumas coisas mudaram.

Antes, não tínhamos celulares, que vem com joguinhos e acesso à internet. Computadores estavam engatinhando e, mesmo os videogames, que eu sempre gostei de jogar, eram limitados. Na maioria das vezes, meus amigos de escola eram meus vizinhos e eu não precisava tomar uma Van pra ir pra aula, porque a gente estudava na escola mais próxima, com poucas exceções. E eu podia brincar na rua com meus amigos, não tinha de ser preparado para a vida exaustivamente com aulas de inglês, matemática, karatê, violão, desenho, informática e tudo o mais.

Fico pensando o que vou fazer quando tiver os meus filhos. Se vou conseguir ensiná-los que não posso dar tudo que eles virem na televisão (ou no computador) e que as brincadeiras mais legais são aquelas em que a gente faz uma história maluca e sem sentido, mas que valem lembranças e risadas para a vida toda. Mas acho que no fim, é tudo muito simples e as crianças são, em sua grande maioria, o reflexo dos pais. Se ela tiver pais que trabalham vinte horas por dia e nunca têm tempo para brincar, ela vai crescer sendo educada pela televisão e compensando a carência com o consumo que ela nos oferece. Não que seja errado trabalhar para dar uma boa condição aos filhos, a gente sempre quer o melhor para eles. Mas será que, às vezes, o melhor não é algumas horas brincando de pirata (ou lobisomem, no meu caso) e fingindo que o mundo ao redor não existe?

Então, nesse dia das crianças, não dê apenas um brinquedo, não dê só um presente. Faça isso também, mas no resto do ano, dê o que a criança mais precisa, seja presente.

E aí, já brincou com seu filho (sobrinho, irmão, afilhado) hoje?

Rabiscografia #01 – Leonardo Da Vinci


Estamos inaugurando uma nova categoria no Rabiscando.

Na Rabiscografia vamos trazer artistas diversos e, quando possível, uma entrevista exclusiva com o próprio.

E para começar, vamos falar sobre um artista que, embora não esteja mais entre nós há centenas de anos, é considerado um dos maiores (se não o maior) que já houve e continua muito influente até hoje, principalmente na cultura pop. Estamos falando de Leonardo Da Vinci, que viveu entre 1452 e 1519. Embora reconhecido principalmente como pintor, foi perito em várias artes, considerado até hoje como um gênio tecnológico e visionário inventor, chegando a rascunhar os primeiros projetos de máquinas voadoras de que se tem registro.

Abaixo, você confere dois infográficos sobre a vida de Da Vinci. No primeiro, separamos alguns dos pontos mais importantes de sua história e, no segundo, um pouco sobre o status pop que o artista mantém ainda hoje.

Os desenhos

A menina estava na sala, sentada à mesa, a desenhar. Na rua, o vento e a chuva não permitiam grandes sonhos, pelo que a menina nem se atrevia a espreitar à janela. Não podia brincar no quintal, como fazia habitualmente. Não podia andar e correr, para trás e para a frente, com o seu cão.

Não podia ir para o balanço. Estava triste por isso, mas arranjara uma boa forma de contornar a questão: fazia desenhos.

Naquela manhã, a menina acordara entusiasmada, mas assim que viu pela janela o temporal que na sua cidade se instalara, logo perdeu a ilusão de brincar no quintal.

Ao mesmo tempo que se desiludiu, resistiu à sensação, e começou a desenhar.

O motivo do desenho era simples: uma menina brincava com o seu cão num jardim, debaixo de um sol radioso.

Desde muito cedo, a menina evidenciava um raro talento para o desenho.

De cada vez que um trabalho seu era mostrado a um adulto, havia sempre uma de duas dúvidas: se a menina tinha efetivamente a idade que os seus pais diziam ter, ou se tinha tido ajuda para fazer o trabalho. Só quem podia presenciar o ato criativo poderia confirmar, sem hesitação, o talento que estava naqueles desenhos.

À medida que foi crescendo, a menina começou a ver noticiários na televisão, ganhando consciência de que o Mundo não era, muitas vezes, um lugar parecido com aqueles que costumava desenhar.

Havia lugares que não tinham meninos felizes a brincar ou a passear com os pais, que não tinham animais em paz no seu habitat, que não tinham árvores ou água límpida. Havia lugares tristes e feios, por culpa do Homem.

A curiosidade da menina dava, inevitavelmente, lugar a perguntas. “Por que é que este lugar é assim?” Os seus pais tentavam dar a entender, sem especificar muito os motivos, que nem sempre os homens e as mulheres de cada lugar se entendiam, nem sempre estavam de acordo, e que, por vezes, discutiam muito, tornando os lugares mais tristes.

Esta descoberta começou a refletir-se, aos poucos, nos desenhos da menina. Sem que os pais se apercebessem, inicialmente, os desenhos começaram a ser, na sua maioria, retratos de lugares tristes.

O comportamento da menina refletiu este fator, também, pois costumava ficar mais triste, depois de desenhar.

Um dia sua mãe apercebeu-se daquela realidade e falou com a menina. Explicou-lhe que não podia fazer apenas desenhos tristes e disse-lhe que era importante desenhar lugares como aquele onde viviam, lugares onde as pessoas eram felizes.

A menina ficou a pensar naquelas palavras e, sem dar muito bem por isso, começou a fazer desenhos mais parecidos com os que fazia inicialmente. Voltaram os meninos, os cães e os gatos, os animais na floresta, o campo e a praia.

Um dia, a menina falou com a mãe, sobre os desenhos.

– Mãe, lembra daquela vez em que me disse que para não ter medo do escuro, podia pensar em coisas bonitas?

– Sim.

– Se eu fizer desenhos bonitos e se todos os meninos também fizerem desenhos bonitos, quando formos grandes, vamos querer que o Mundo seja como os nossos desenhos, não é?

– Claro! E todos vocês, quando forem grandes, vão fazer tudo para ajudar a tornar o Mundo um lugar melhor!

No dia seguinte, a menina acordou e foi à janela. Estava um lindo dia de sol. O cão estava no quintal. A menina foi à porta do quintal e disse ao cão:

– Espera um pouquinho, já vamos brincar. Vou só fazer um desenho!

Adaptado do Autor João Nogueira Dias

Cadê o Meu Estilo?

Por Raul Tabajara

“Você que é ilustrador, tem um estilo? Não? Então você não é um ilustrador de verdade!”

Quantas vezes eu já ouvi isso? Muitas. E o que mais me deixa chateado é quando ouço que o importante é ter seu próprio estilo. Quem disse isso?

Vou gerar polêmica, apenas citando o ilustrador Ziraldo quando indagado sobre estilo. Disse ele:  “Estilo é não saber fazer melhor”

Lógico que ele disse isso num contexto onde era indagado sobre o próprio estilo, e isso foi uma auto-crítica.

Mas uma coisa que eu sempre digo para todos os meus alunos é:
Não busque um estilo. Ele busca você. Apenas desenhe sem parar.

Trocando em miúdos, e vendo, talvez, o copo “um pouco vazio”:
Quando se tem um ritmo muito grande de trabalho você já deixa pré-definido:

a) uma forma de começar;

b)uma forma de fazer sombra; e

c) uma forma de terminar logo aquele “raio” de ilustração.

A repetição dessa sua fórmula pessoal de início, meio e fim, acaba gerando um certo toque só seu.

Eu nunca corri atrás de estilo, até uma vez que meu aluno viu uma obra minha na internet e me mostrou (um desenho antigo de uma sereia que nunca terminei).

Ele disse “isso é seu, não é?”. E eu disse “É, de uns dois anos”. O desenho estava sem crédito em um site sobre mitologia e ele disse “Seus desenhos sempre me parecem fotos de esculturas em massinha, por isso achei que fosse seu”

Eu fiquei extremamente ofendido com aquilo.
Onde já se viu: o meu “super desenho realista” (que era o que eu achava dele) ser comparado a esculturas de massinha! Mas que afronta!

Mas era fato, e aos poucos fui me acostumando com a idéia de que meus desenhos “se parecem com massinha” – por mais que eu tentasse fazer outra coisa.

Hoje, quando me perguntam, eu digo exatamente isso: “meu estilo é quase uma foto de esculturas em massinha”. E digo tranquilo… porque é o meu estilo… eu faço luz e sombra como se as coisas fossem brinquedos (eu goste disso, ou não).

Indo um pouco além:

Nosso padrão de beleza somos nós mesmos. E nós nos olhamos no espelho sempre. É natural que nossos desenhos fiquem LITERALMENTE com a nossa cara. E isso é um dos fatores psicológicos e inconscientes que tem grande peso nas proporções de nossa obra.

Por isso eu não acredito (e sou contra) aqueles que dizem que um ilustrador deve buscar seu estilo. Se você for ilustrador ou está se formando para ser, não entre em campanha em busca de seu estilo.

Busque seu tema favorito; busque a categoria de trabalho favorita; busque pintar com as cores que mais gosta. Até copie seus artistas favoritos, mas não faça nada disso buscando o seu traço.

O estilo (ou seja, o tipo de traço e tipo de proporção que sairá o desenho), surgirá naturalmente, de acordo com as suas capacidades artísticas e seus conceitos inconscientes de beleza.

E aí eu fecho com a frase do Ziraldo novamente, mas com uma segunda interpretação (com o copo mais cheio):

“Estilo é não saber fazer melhor”.

No final das contas, estilo surge da sua capacidade, não de uma busca.

E veja, quando digo “surge de sua capacidade” não significa que há estilos melhores ou piores. Apenas é aquilo que o seu cérebro, e suas condições de trabalho o levam a realizar… porque uma vez voltando a estudar do ZERO, seu estilo muda (ou evolui).

Então, bora fazer fogueira: Vamos soltar faíscas do grafite de tanto desenhar.

Desenhe aquilo que você gosta, e o estilo buscará você.

Via: blog do Raul Tabajara

Concurso de Crônicas – Premiação

Como já havíamos mencionado aqui no Rabiscando, @Peptus ficou em quinto lugar num concurso de crônicas realizado no Estado de São Paulo pela Academia Jundiaiense de Letras em parceria com a Astra S.A. e que teve quase 600 participantes.

Pois bem, nessa última quarta, dia 28, foi realizado o evento de premiação e Peptus, lógico, estava lá para participar e o Rabiscando para conferir.

O Premiado: (Notem que o certificado está de ponta-cabeça...)

O certificado

E abaixo você confere a crônica:

Tique-Taque

Percebi que estou ficando velho. E não foi só por causa dos fios brancos que começaram a brotar em minha cabeleira negra, nem porque meu amigo de colégio, da época em que a única mulher importante em nossas vidas era nossa mãe, hoje já é pai de uma garotinha e tem outro filho encaminhado. Também não é porque os jogadores de futebol que eu sabia o nome de cor agora só comentam jogos e participam, no máximo, de uma pelada beneficente. Ou porque atualmente eu é que empresto o cartão de crédito para o meu pai ou o levo em consultas médicas e não o contrário, e concordo com ele em muito mais assuntos. Não é apenas porque meu jogo de videogame preferido já está fazendo quinze anos e agora eu nem preciso mais convidar os amigos pra jogar em casa, continuamos jogando juntos, mas cada um na sua própria. Nem por eu não ter mais que decidir o que eu vou ser quando crescer, mas sim, crescer com aquilo que escolhi ser.

Mas se envelhecer tem um lado assustador (que o diga minha gastrite), também tem me trazido um aprendizado e um entendimento que podem compensar a constatação de que o tempo está passando. Porque o tempo me ensinou muitas coisas. Aprendi, por exemplo, que ele é imutável. Ele não avança, para que a dor de um amor que deu errado se cure logo; não pára, nem mesmo para que se possa aproveitar um pouco mais aquela noite com os amigos ou a família; e nem tão pouco volta, para tentar fazer direito o que fizemos errado ou, então, quem sabe, jogar na Mega Sena depois que já se viu o resultado. Não, o tempo não está nem aí para os nossos desejos, mas se você compreender que é você que tem de se adaptar a ele e não o contrário, então pode aprender muitas coisas e aproveitar muito bem a vida. E quando falo em aproveitar, não estou querendo dizer que temos de viver “La vida Loca” e sermos felizes o tempo todo (ninguém é), mas aprender a dar valor ao que é importante e ao que nos faz felizes.

Aliás, se eu tivesse de dar um conselho para a nova geração (outro hábito de quem tá envelhecendo, achar “super legal” ficar dando conselhos), eu não diria para usar filtro solar, embora esse seja um bom conselho, tenho certeza de que alguém já disse isso por aí; então eu diria: Continue. Sim, não pare, evolua. Porque tenho percebido uma quantidade razoável de pessoas, amigos ou apenas conhecidos, que têm se detido na vida por uma ou outra razão. Por um amor mal resolvido, por uma pessoa querida que se foi e não vai mais voltar. Por se prender ao passado, romantizar uma época que já passou, e por acreditar que nunca mais vai ser feliz como naquela época. Por se prender a um trabalho que, ao invés de deixá-lo motivado e cheio de expectativas para o futuro, o transforma numa pessoa mal-humorada e reclamona. E, principalmente, por achar que a culpa de tudo isso é do mundo, dos fatores externos e não sua própria. Por achar que a vida começa a declinar aos quarenta e poucos anos, ou até com menos. Mas a vida não precisa declinar. Cada fase tem as suas vantagens e os seus benefícios, os seus privilégios. Cito meus pais, por exemplo, que se até outro dia mal sabiam como atender o celular, hoje leem jornal pela internet, compartilham vídeos, fotos e até batem papo pela rede. Claro que eles não vão brigar no mercado de trabalho com as gerações mais novas, mas o importante é a experiência, é o aprender. Foi com esse espírito que meu pai, já aposentado, decidiu cursar uma faculdade de Direito. Não para ser um futuro advogado, mas pelo prazer de aprender uma coisa nova e que o agrada.

E se tem uma coisa que eu aprendi vivendo e também observando, é que a vida não é uma corrida, mas muitas pessoas agem como se fossem. Estão sempre competindo, com pressa, querendo chegar em algum lugar e cada vez mais rápido, como se a única coisa importante fosse esse ponto, muitas vezes quase inatingível. Mas a vida é um passeio. E o que importa mesmo é o caminho que percorremos, é aproveitar a viagem enquanto vamos de um objetivo, meta ou sonho, não importa que nome você use, a outro.

Parafraseando Legião Urbana, “no fim das contas, ninguém sai vivo daqui, mas vamos com calma”. Então, aprecie a viagem, aproveite o passeio, compartilhe com as pessoas que você ama e não tenha tanta pressa para chegar lá. Porque no fim, mais importante do que a chegada, é o que te aconteceu no caminho que conta. E você é o principal responsável. E nem adianta reclamar depois, porque o tempo, como eu já disse, não vai parar e nem muito menos voltar só porque você quer. E nem precisa ser Eisten pra saber disso. Basta olhar pro seu próprio relógio. Tic Tac.